A Luta pela vida na Escola.
A pandemia alargou abismos sociais, culturais e econômicos da sociedade capitalista a qual estamos sujeitadas: Fome, miséria, desemprego, doenças, falta de saneamento básico, refugiados, danos irreversíveis à natureza, racismo e machismo. A população que vivencia estas misérias sociais todos os dias, passou a sentí-las com mais intensidade.
Fala-se muito na gravidade do vírus ( a qual, de maneira nenhuma, deve ser desmerecida, diminuída ou ignorada), mas o descaso com a população pobre e trabalhadora que setenciou a morte de milhares de pessoas em nosso país, sempre existiu, e agora vem se agravando por conta do vírus, uma vez que na atual conjuntura brasileira, enfrentamos dois inimigos: um novo, o covid, e uma velha conhecida: a injustiça social causada pela divisão de classes existente e enraizada neste país.
Neste contexto, os ataques contra a escola pública iniciaram. O vírus foi a grande oportunidade de destuir a educação pública, já sempre muito combatida por aqueles que oprimem, e que enxergaram nele uma forma de desqualificar e aniquilar estas instituições.
Frente a isto, percebemos que não poderíamos deixar a escola morrer, uma vez que este é o espetacular plano capitalista.
Mesmo com todo o clima de insegurança e medo, sem apoio dos governos a nível federal, estadual e municipal retornamos para as escolas e percebemos a manipulação e ataques às instituições públicas com atendimentos precários que não davam conta das demandas das comunidades, mas o importante era anunciar que as escolas estavam abertas!
Percebemos tudo. Passamos a conversar, refletir e articular. Até o dia que uma cara professora disse: “Nós não vamos deixar o covid matar a escola”.
Assim iniciamos a luta pela vida na escola mostrando à comunidade que a escola estava ali, viva, forte, colorida e brincante.
Seguindo os protocolos passamos a acolher as mães e suas crianças em espaços convidativos e ao ar livre( sempre que possível).
Começamos a conhecer as demandas que aumentaram durante a pandemia: fome e violência contra mulher. Passamos a articular e colocar em práticas ações que pudessem conscientizar as pessoas que sofrem estas violências.
Esta caminhada de conscientização seguirá ao longo da nossa trajetória enquanto professoras, pois despertar o senso crítico exige dedicação, paciência histórica e amorosidade como nos mostrou o querido Paulo Freire.
Seguimos na luta. Combatendo o covid e todas as violências do sistema, entre estes, o descaso do Estado.
Não somos heroínas, de forma alguma, até mesmo porque temos consciência de que heroínas não existem e sim, na verdade, mulheres da vida real educando bebês e crianças para um mundo mais justo.
Maria! Teu relato me transportou para uma espécie de “outro mundo”…um mundo emergente em meio a pandemia mas também em meio ao recrudescimento de velhas conhecidas práticas de desigualdade…vi um outro mundo emergindo por entre certa destruição, um mundo habitado por mulheres/professoras que cuidam de bebês, cuidam da preservação da vida que insiste…Vamos contar/fazer essa história? Contar um mundo que enquanto se conta, se cria, contar um trabalho docente que enquanto se conta, se reinventa!
Olá, Maria. Obrigado por compartilhar sua história, reflexão e luta conosco.
E que luta! Quando males antigos e entranhados em nosso tecido social se aproveitam de um novo perigo para produzir uma nova investida na destruição de nossas escolas e da educação pública, é o esforço, cuidado, carinho e decisão de mulheres reais da vida real que fazem o movimento de inocular de vitalidade essa escola e gerar uma resistência com amorosidade, para que a educação pública não morra. Tem algo de muito bonito e forte na tua história de como se faz uma estratégia cuidadora daquilo que sofre ataques, e se resiste em cuidado, afeto e comunidade. Tem aí uma grande pista para se pensar o como incutir saúde nessa sociedade que tanto briga com males antigos, não é mesmo?
Vamos seguir trocando juntos mais estratégias de cuidado para isso que exige dedicação e vale a pena!