O ofício colocado em xeque-mate!

Autor

Alfabetizadora

Publicado em

12/07/2021
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No dia 18/03/2020 me despedi dos alunos, a maioria, recém-adaptados a rotina escolar de um primeiro ano do ensino fundamental:

– Até breve, turma! Em aproximadamente uns 15 dias nós estaremos de volta!

(Aqui eu acreditava que em abril as aulas presenciais voltariam)

Deixei para cada criança um apanhado de atividades grampeadas em bloco e dei alguns temas diários:

Leiam o alfabeto e os livrinhos de histórias, cantem a música dos dias da semana que a professora ensinou, façam as atividades enviadas e se cuidem, pois logo isso tudo vai passar!

Passado o primeiro mês e a expectativa de um retorno presencial não veio, já estávamos em abril e o silêncio da escola, dos colegas e da rede de ensino deixavam aquele momento mais angustiante. Na televisão a cada notícia a situação se agravava mais e mais.

Nesta altura, eu via alguns familiares e amigos sendo demitidos de seus empregos, pais de família passando dificuldades, e eu, por ser funcionária pública, não estava sendo atingida financeiramente pela pandemia, o que me deixava feliz e ao mesmo tempo angustiada por querer fazer valer minha condição de “privilegiada”, ou seja, eu queria e precisava fazer jus ao salário que eu estava recebendo para me sentir melhor.

(Aqui eu acreditava que em junho as aulas presenciais voltariam)

No final de abril aconteceu a primeira reunião de professores em formato on-line e ali decidimos disponibilizar atividades via Rede Social para os estudantes e, desta forma, se deu nos meses seguinte, professores disponibilizando atividades em uma rede social, mas que não nos possibilitava ter retorno de quais e quantos estudantes estavam acessando ou conseguindo realizá-las junto a sua família…

Enquanto isso, a mídia explorava histórias de professores andando muitos quilômetros para acessar seus alunos, atravessando rios de barco, etc… e eu me sentindo cada vez mais uma professora triste e desestimulada, pois naquele momento nem sabia quais alunos de fato estavam realizando as tarefas que eu enviava.

(Aqui eu acreditava que em agosto as aulas presenciais voltariam)

Quanta angústia esses meses me traziam…quanta dor, quanto silêncio, quanta distância… sentia que estava tudo ao contrário do que a educação deveria ser…

Em julho, a mantenedora lançou uma plataforma educacional para postarmos atividades, essa plataforma me trouxe um alento, pois, nós professores, conseguíamos ver quais e quantos alunos estavam acessando nosso conteúdo. Mesmo que eles representassem menos de um quarto da turma, ao menos sabíamos que existiam estudantes sendo “alcançados”.

Nossos estudantes se revezavam nos retornos das tarefas, no restante do ano letivo usamos somente esta plataforma para enviar atividades, foi frustrante, complicado e desafiador…

…mas lembro, como era valoroso quando, em uma tarde qualquer, recebíamos a foto de uma criança realizando atividade e/ou mandando um recadinho para professora! Esses momentos me mantiveram firme e planejando as melhores atividades possíveis para aquelas crianças naquele momento.

(Aqui eu percebi que as aulas presenciais não voltariam)

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