Meu nome é Antônia tenho 54 anos sou professora aposentada da escola particular e trabalho a 20 anos na rede pública estadual e municipal com alunos do 6° ano ao 3° do médio com a disciplina de Arte e Projeto de Vida.
No momento uma escola está no trabalho remoto com aulas síncronas e assíncrona enquanto na outra estou presencial com alunos presenciais e alunos on LINE.
O sentimento é de que a escola que trabalhei e sempre tive como referência sumiu, não existe mais aquele espaço e aquele fazer da maneira como acontecia, não temos o convívio, o olhar, a sala de aula cheia e o barulho da escola onde muito além de conteúdos existe uma relação de conversas, brincadeiras, auxílio e troca de vivências muito grande.
O ano passado foi muito angustiante, pois não tinha quase nenhum conhecimento a respeito das tecnologias e ferramentas digitais e precisei correr atrás para aprender alguma coisa e tentar me “comunicar” com meus alunos. Digo isso porque não sabia se o que enviava chegava realmente até eles, recebia algumas respostas de trabalho e TD que recebia achava muito bom só pelo fato de estar recebendo um retorno.
Alguns queriam responder mas não sabiam como e eu TB com pouco conhecimento para explicar kkkkkk. Foi por aí…digo que com quem mais falei foi com o Sr Google e seus tutoriais.
Iniciamos este ano e quanto ao domínio das plataformas está mais tranquilo tanto para nós quanto para eles. Mas é preciso considerar que os alunos têm apenas um celular muito simples que não comporta aplicativos, poucos tem computador , e internet em geral é um sinal mais fraco, então aulas maravilhosas com aplicativos e programas muito bacanas eu não consigo desenvolver. Preciso pensar a aula virtual para a plataforma e também a física para o aluno que retira na escola, da mesma maneira a adaptada para o aluno da sala de recursos ( de 1 é preciso fazer 3), sendo bem franca não existe tempo para aulas maravilhosa. É inegável que a pandemia me tirou de uma zona de conforto e me fez buscar e conhecer ferramentas maravilhosas para trabalhar mas a realidade do dia a dia com a quantidade de turmas e diversidade de situações limita muito o trabalho. Hoje trabalho muito mais do que antes e em termos de resultados não são animadores.
Posso dizer que nas minhas duas escolas existe um comprometimento muito grande por parte de todos e conseguimos um bom alinhamento no trabalho isso é o que mais me dá segurança e um norte para tocar o trabalho.
Antônia, que rico relato o teu! A imagem da “escola sumiu” é muito forte e dá a sensação da perda de referência que, provavelmente, estás experimentando neste momento! Além disso, uma alta demanda por preparar e ministrar aulas virtuais, físicas e em sala de recursos tendo as estratégias do trabalho sido fortemente abaladas. Mas ressaltas: o bom alinhamento entre pares do trabalho dá segurança: sim!!! A força do coletivo é fundamental!
Olá, Antônia, e obrigado por compartilhar sua história com a gente. Fiquei tomado por isso que escreveste de que a escola que tinhas de referência “sumiu”: muitas vezes nós até tentamos ver o lado positivo de quebras de referência, mas com toda uma história sendo produzida na educação, acho que também precisamos de um tempo pra poder fazer um luto desses sumiços, respeitar uma certa tristeza, pra além dos necessários rearranjos.
Acho que esse questionamento sobre a possibilidade das “aulas maravilhosas” é riquíssimo. Frente às dificuldades e recursos limitados, como fazer algo diferente, interessante, instigador? E o que dá pra fazer mesmo nesse contexto? O que seria essa aula maravilhosa, e que precisaríamos para ensaiá-la? O que dessa concepção e dessa necessidade de movimentos para chegar lá pode nos instruir pra nossa prática do agora (mesmo que talvez não tenhamos mesmo como chegar lá)? E que forças podem ser acionadas, quando se trabalha mais e mais e o ânimo se reduz, como tu narras?
Uma das coisas que temos ouvido bastante nesses relatos, e tu também nos traz, é desse elemento dos retornos serem tremendamente importantes e carregarem a recompensa do trabalho consigo. Tomara que possamos fazer desse espaço um lugar de retornos e trocas também.