Docência e presença

Autor

Heloisa

Publicado em

23/09/2021
2 Comentário

O trabalho docente só existe pelo contato com o outro. Não fosse o outro, nós docentes não estaríamos aqui…. Não fosse o contato, a troca, a possibilidade de aprender junto, não existiria o trabalho docente.

Perder o contato diário do olho no olho pela força do vírus que se alastrou não foi fácil. Primeiro foi meu “corpo docente” que sentiu. Horas em frente a uma tela, a tentativa de elaboração de materiais escritos que tentassem traduzir uma aula para uma página de .pdf, a falta de contato na “entrega” daquele material, o retorno que muitas vezes vinha intermediado por algum adulto responsável ou familiar.

O objetivo era a manutenção de vínculos e, em alguns casos, a própria construção ou reconstrução.

Aos poucos, o “corpo docente” que sobe e desce escadas, troca de salas, troca de ares, organiza os materiais, que se esforça para a criação de uma atmosfera de aprendizagem vai se acostumando com o novo formato, mas não sofrendo menos em função daqueles que sabe que este formato efetivamente não alcança. E não menos crente que é preciso ser professor inteiro e de corpo todo. Fora da tela.

Pandemia Ano II. Mudam-se as estratégias. Um pouco disso tudo já aprendemos. E bate mais forte a certeza de que o que move o trabalho docente é o contato. É a troca. É a interação. É estar junto nas descobertas, nas tentativas, nos erros e nos acertos. É um trabalho de disponibilidade para o outro, ainda mais nestes tempos em que nem sempre os estudantes conseguem estar presentes e com as condições adequadas para situações de estudos. E soma-se ao desafio do exercício docente uma questão: como manter vínculo ou estabelecer vínculo com quem não está presente?

Se inscrever
Notificar de
guest
2 Comentários
Mais novo
Mais antigo Mais votado
Feedbacks em linha
Ver todos os comentários
Daniel Fernandes
Daniel Fernandes
Admin
3 anos atrás

Olá, Heloísa! Seu relato me remeteu a uma questão que acho bastante interessante de pensar… a importância do vínculo. Não só a importância dele no criar e sustentar nossas vivências e comunidades, mas o processo, a artesania mesmo de sua feitura e manutenção. Talvez o vínculo seja uma tecnologia essencial para nosso fazer, mas por vezes pouco pensado enquanto tal, e parece que temos aqui uma chamada importante a pensá-lo.

Juliana Prediger
Juliana Prediger
editor
3 anos atrás

Obrigada Heloísa por compartilhar um pouco do teu pensamento.  O que tu escreveste me provocou muito a pensar  no “corpo docente”… um conjunto de corpos de docentes? esse corpo que é uma comunidade… e de uma docência que se fazia pelo corpo e de repente está cercada de grandes restrições. A docência faz marcas no corpo, às vezes mãos ressecadas de excesso de giz, às vezes uma voz permanentemente rouca… uma postura e um modo de olhar para a turma que presentifica a professora (Diante de um determinado modo de parar e de olhar surge um “hei, vamos parar que a professora chegou”!). Fiquei aqui pensando… para além de como fazer vínculo com quem não está presente, como fazemos presença?

2
0
Junte-se à conversa, deixe seu comentário. ?x