Confiar nas persistências

Autor

Caminhantes

Publicado em

30/09/2021
2 Comentário

 

Ritual. Postura. Professor é muito apegado à rotina.  Que tu chega, que tu pega a chamada. Falar de coisas exclusivas da escola; foca-se no aluno. A escola está toda aparelhadinha. Quando eu vejo todo mundo me esperando, é uma bênção! Essa escola! (suspiro) Uma característica muito dela! Dessa coisa que é tão difícil da gente quebrar.  

 

A escola está gritando! Berrando!

 

Nós já éramos invisíveis. 

 

Fui lá tirar xerox de atividades. Eu tive que comprar um celular. Um notebook. Conheci o meet. Sempre buscando melhorar o trabalho. Diferente de meses atrás. Preciso criar estratégias. Eu não sei como ia ocorrer a aula naquele dia. Não tem rotina. Diferentes formas de escalonamento. Mudar ferramentas, outras alternativas.

 

Meu sentimento é de cansaço. 

Sem retorno se eles estavam se alimentando. Escuro. Às cegas. Abre! É com a família toda! O campo para mim é um lugar que relaxa. Meditação como linha de manter relação humana. Cachorro. 

 

Era enervante não conseguir entrar na reunião!

 

Esforço para se manter professor. Contradição. É muito louco. Meu papel dentro de uma escola pública. Meu melhor lugar é a sala de aula. Escola que eu amava… e foi fechada. Eu sou professora! Sou a Ana, a Professora Ana! Tentando entender questões do trabalho…

 

Começamos a nos encontrar. Relatar o que vivemos. Será que eram minhas colegas? O que acontece na de vocês, acontece na minha. Histórias se entrelaçando. Abraçada. Ganhamos voz. Eu preciso escrever, colocar alguma coisa. Espaço de troca, mas não na escola onde estou. Eterno aprendizado.

 

Exaustas, estamos exaustas. Medo, insegurança. Remoto, presencial, remoto e presencial ao mesmo tempo. Furtos na escola, alunos do 4º ano ainda não estão alfabetizados. 

Eu tenho horror à semana farroupilha e tava lá fazendo painel da semana farroupilha!

E a pandemia disse: desapega!! Não vai mais ter giz!

 

Professor é de uma rigidez ao tempo!

 

Não sei como vai ser agora para voltar. Vamos voltar com uma escola nova. O que nós vamos fazer com isso??!!  Eu não quero entrar nesse Sistema. Tem coisa que a gente vai fazendo e critica. O que é o normal? Tu vai ter que refazer teu pensamento, né…. Pensamentos mágicos…

 

O cotidiano da escola é uma grande constante… mudanças diárias que atravessam o caminhar… Quando nos perguntamos: “O que é o normal?” Surge em nós uma lembrança do que passou… queremos voltar ao que era… mas o presente também possui suas surpresas e em cada relação, vamos deixando muita coisa… e também carregamos conosco tantas outras…

 

Escola nova? O que será uma escola nova?

A cada tempo deveríamos ter uma escola. A escola deveria estar imersa no seu tempo, sem abandonar a sua história. 

 

Nesse passado, cheio de medo e inquietações, é o eco do nosso existir. Pandemias, epidemias, pessimismo, negacionismos, incertezas, contestação da ciência. Pergunto. 

A escola nasceu ou foi inventada para tirar as pessoas do obscurantismo, devotas da razão, mas apesar disso, interroga-se a sua função? Sim. Falhamos. Falamos muito, cobramos mais e escutamos pouco, e com atenção menos ainda. Não percebemos a patrola e seguimos alienando e alienados das pessoas.

 

Precisamos mudar…

 

Será que estamos dispostos a mudar? Será que estamos preparados para aceitar os desafios que estão por vir? O apego a rotina nos faz querer tudo sobre nosso controle… a pandemia veio e perdemos essa rotina… a cada dia são surpresas e desafios diferentes…

 

Enxergar que temos uma chance de caminhar um pouco diferente..

Nos desafiar. Aceitar as mudanças. Ou, simplesmente, confiar. Confiar nas possibilidades futuras.

O futuro não depende da gente exclusivamente. Depende de um emaranhado de acontecimentos.

 

Diante de nós está uma grande oportunidade e cabe a cada um poder enxergar as possibilidades que o “novo” pode nos proporcionar… A possibilidade de pensar sobre algo que nos afeta já é o começo dessa mudança… dessa aceitação… 

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Fernanda Spanier Amador
Fernanda Spanier Amador
editor
3 anos atrás

Caminhantes! Que bom conversar com vocês! Caminhantes pela errância de um processo pelo qual exercer a docência requer mais do que nunca, confiança! Confiança pra percorrer o incerto e por ele, produzir vida e ofício em meio às ameaças sofridas na pandemia de Covid-19! Compartilhar a alegria e a dor por entre esse processo e prosseguir para a próxima incerteza onde fecundam novos mundos.

Daniel Fernandes
Daniel Fernandes
Admin
3 anos atrás

“Pensamento mágico”, foi como a expressão surgiu primeiro para Tessália, junto com aquele cheiro seco tão característico. “Melhor seria chamar de sensação mágica!”
E talvez fosse mesmo. Afinal, talvez nem fosse ainda um pensamento. Havia pensamento na rotina?

Tessália se perguntava se perguntar-se isso atrapalhava ou não a sustentação do ritual. Também se perguntava se o ato de se perguntar não era um esforço de separação entre Tessália e a professora Tessália. Afinal, era pela magia do ritual que ela se fazia professora, e essas perguntas desviavam sua atenção do círculo mágico que o giz riscava.

O giz riscava, ou sua mão riscava? E que era esse desvio? Atrapalhava? Talvez se não fosse o perguntar, não haveria muito também como manter essa tensão… e sem ela, pode ser que o círculo e seu desenhar ficassem ainda mais imperfeitos.

Curioso tudo isso: algumas das ferramentas tiveram de mudar, algumas permaneciam as mesmas. Ferramentas de trabalho, ferramentas desse trabalho, ferramentas do trabalho. O giz, que estava até difícil de encontrar – a lousa. A tela e a camêra… mas o mais difícil – percebia agora – era sustentar um ritmo nessa rotina/ritual sem a proximidade dos outros. Eles estavam presentes, sim, mas era diferente o contato, e isso era difícil ainda. Será que deixaria de ser?

O círculo estava pronto. Imperfeito, mas feito. E pela sua feitura, outros continuariam sendo feitos. Misto de controle e acaso, confiança e aposta. Tessália torcia que o rito não se perdesse na invisibilidade.

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