Como não soltar a mão de ninguém durante a pandemia?

Autor

Docente pandemica

Publicado em

24/09/2021
3 Comentário

Como não soltar a mão de ninguém durante a pandemia?

Ao final de 2018, após se concretizar a eleição do tal atual presidente: o genocida, machista, fascista, racista e tudo o que há de pior, nós, integrantes da população que se identificava politicamente com o campo da esquerda, começamos a utilizar a frase “ninguém solta a mão de ninguém” como slogan, como fala de amparo a quem previa parte do caos que se instauraria no Brasil.

Em meados de março de 2020, quando começamos a vivenciar a pandemia de Coronavírus, uma das primeiras coisas que pensei foi: Como não soltar a mão de ninguém durante a pandemia?

A população, até os dias atuais, não pode/deve tocar em pessoas que não sejam de seu convívio direto. E então: como não soltar a mão de ninguém durante a pandemia?

Enquanto docente que atuava na supervisão dos anos finais de uma escola pública de ensino fundamental, pude observar grande parte dos (as) docentes, estudantes e familiares em esforço máximo para não afrouxar o laço, para não soltar as mãos.

As mãos foram dadas através de aplicativos de conversa e de redes sociais, porém, se desconectavam quando não havia equipamentos ou rede de internet. Este se desconectar foi bem mais frequente do que o conectar, é triste lembrar.

O coletivo docente dessa escola onde trabalho, no mês de outubro de 2020, elaborou uma outra forma de dar as mãos: entregar aos estudantes a “Sacola pedagógica”. Com os devidos protocolos, diversas mãos montaram este material, que foi composto pelos seguintes itens:

  • Uma sacola customizada com o nome da escola
  • Carta da Equipe Diretiva às famílias
  • Livro de literatura infanto-juvenil
  • Bloco de atividades pedagógicas elaborado pelos (as) professores (as) e organizado pela supervisão pedagógica
  • Envelope com uma proposta de atividade que visava promover a integração com as famílias
  • Materiais escolares: caderno, lápis, caneta, régua, borracha, cola, tesoura, lápis de colorir, giz de cera
  • Materiais lúdicos (cada ano-ciclo recebeu um): massa de modelar (1º e 2º ano), balões (1º, 2º e 3º ano), jogo de varetas (3º ano), jogo de raquete (4º e 5º ano), jogo de varetas (6º ano), baralho (7º ano, 8º ano, 9º ano e Ed. de Jovens e adultos).
  • Máscara de proteção facial
  • Sementes de girassol (para as famílias plantarem, simbolizando o sentimento de conforto, vitalidade, luz, felicidade e sorte, o que buscamos para o futuro da nossa Comunidade Escolar)

 

As famílias foram chamadas para retirar os materiais, convocadas para que pudéssemos, em alguma medida, dar as mãos novamente.

O retorno dado pela comunidade escolar após a entrega das sacolas pedagógicas acariciou o coração de cada docente.

Refez-se o laço, demos as mãos novamente.

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Cristiane Bremenkamp Cruz
Cristiane Bremenkamp Cruz
editor
3 anos atrás

Que delicadeza essa sacola customizada contendo sementes de girassol e máscaras de proteção, além das atividades mais estritamente pedagógicas… Fico cá imaginando o movimento coletivo necessário pra organizar estes materiais pra cada ciclo, as conversas tecidas juntes pensando quais jogos lúdicos seriam mais adequados pra cada faixa etária, enfim, o mutirão (não aglomerado) necessário pra fazer funcionar a escola na sacola…
Obrigada, docente pandêmica, por compartilhar conosco essas histórias!

Fernanda Spanier Amador
Fernanda Spanier Amador
editor
3 anos atrás

A sacola “virou” escola!!!! Que imagem de itinerância interessante foi criada por ti, Profe!

Daniel Fernandes
Daniel Fernandes
Admin
3 anos atrás

Cara Docente, muito obrigado por compartilhar seus pensamentos, sentimentos e histórias conosco. Talvez a pergunta que sirva de título a sua narrativa seja a pergunta mais importante e urgente desses tempos difíceis, e que bom que temos essa formulação agora estampando em letras bem visíveis esse espaço que se quer também de conversa e contato.
Fico aqui pensando o quanto a escola tem, entre outras coisas, a função mesmo de promover conexões, e como isso se tornou um desafio em meio a esse tempo de cuidados e mediações sanitárias e tecnológicas. Pode ser uma intuição inspirada pela leitura de seu texto, mas achei interessante ver como a sacola pedagógica (uma estratégia de conexão, me parece) contém nela também dispositivos de proteção (a máscara). Talvez tenha toda uma arte para conjugar e inventar formas de nos protegermos em contato, nos conectar para nos cuidar (e talvez o símbolo dos girassóis nos ajude a pensar naquilo que temos de mirar para nos nutrir), e essa sacola ensaia isso.
Acho que isso pode ser uma lição pra gente, e seria bem bacana se sustentássemos aqui essa conexão para conversar mais dessas estratégias e desses cuidados. Topas seguir essa conversa, também a muitas mãos?

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