PRODUZINDO DEMANDA DE ANÁLISE 

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02/06/2023
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Como inicia uma conversa sobre trabalho entre professoras, professores e  equipe pesquisadora em meio à pandemia de Covid-19? Como se produz uma  demanda de análise na e pela pesquisa?  

Pela emergência do projeto!  

Uma pesquisadora partilha com outras professoras e professores sua experiência  referente ao modo como a pesquisa foi inicialmente pensada. Era, até aquele  momento, uma só professora- pesquisadora que “confinada”, (até onde vão os limites  de um confinamento?), pela necessidade de distanciamento e isolamento social,  interroga-se sobre como se dará a microgestão dos processos de trabalho diante de  tamanha “infidelidade do meio”, para empregar um termo proposto por George  Canguilhem1,no ofício da docência nesta situação.  

A pesquisa nasce assim, das angústias de uma professora-pesquisadora, nasce das  muitas interrogações acerca do presente e do futuro, nasce da necessidade de se  juntar às pessoas o que a leva ao contato com outras pesquisadoras e pesquisadores, já  parceiras e parceiros em outros projetos de pesquisa, e por aí mobilizam-se mais duas  Universidades Públicas brasileiras (UFF e UFES), a princípio, e agora já totalizando  quatro (UEMG), em torno do projeto coletivo de criar condições para seguir agindo, no  e pelo trabalho docente e de pesquisa, em meio a pandemia.  

Nasce de alguém que por entre afetos inusitados mobiliza-se pela experiência  sensível do trabalho em um momento de grave crise sanitária, sabendo da importância  que o trabalho, se cultivado enquanto ofício, isto é, se a partir do Coletivo de Trabalho  for realizado um Trabalho coletivo2 de análise da experiência, representa para a  promoção da própria saúde.  

Toda pesquisa no âmbito das Clínicas do Trabalho necessita apostar em uma  produção de demanda de análise junto às trabalhadoras e trabalhadores, há que se  investir na produção de desejo relativa à análise da experiência de ofício, e foi assim  que iniciamos a conversa: partilhando nossas angústias como equipe pesquisadora  junto a grupos de docentes voluntários no ano de 2021, por meio de dispositivos online.  

Como estaria sendo viver a docência em tempos de forte abalo nas estratégias de ofício  traçadas enquanto se faz história pela própria história do ofício?  


1Canguilhem, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002. 

2Clot, Yves. Trabalho e poder de agir. Ed. Fabrefactum, Belo Horizonte, 2010.