Como inicia uma conversa sobre trabalho entre professoras, professores e equipe pesquisadora em meio à pandemia de Covid-19? Como se produz uma demanda de análise na e pela pesquisa?
Pela emergência do projeto!
Uma pesquisadora partilha com outras professoras e professores sua experiência referente ao modo como a pesquisa foi inicialmente pensada. Era, até aquele momento, uma só professora- pesquisadora que “confinada”, (até onde vão os limites de um confinamento?), pela necessidade de distanciamento e isolamento social, interroga-se sobre como se dará a microgestão dos processos de trabalho diante de tamanha “infidelidade do meio”, para empregar um termo proposto por George Canguilhem1,no ofício da docência nesta situação.
A pesquisa nasce assim, das angústias de uma professora-pesquisadora, nasce das muitas interrogações acerca do presente e do futuro, nasce da necessidade de se juntar às pessoas o que a leva ao contato com outras pesquisadoras e pesquisadores, já parceiras e parceiros em outros projetos de pesquisa, e por aí mobilizam-se mais duas Universidades Públicas brasileiras (UFF e UFES), a princípio, e agora já totalizando quatro (UEMG), em torno do projeto coletivo de criar condições para seguir agindo, no e pelo trabalho docente e de pesquisa, em meio a pandemia.
Nasce de alguém que por entre afetos inusitados mobiliza-se pela experiência sensível do trabalho em um momento de grave crise sanitária, sabendo da importância que o trabalho, se cultivado enquanto ofício, isto é, se a partir do Coletivo de Trabalho for realizado um Trabalho coletivo2 de análise da experiência, representa para a promoção da própria saúde.
Toda pesquisa no âmbito das Clínicas do Trabalho necessita apostar em uma produção de demanda de análise junto às trabalhadoras e trabalhadores, há que se investir na produção de desejo relativa à análise da experiência de ofício, e foi assim que iniciamos a conversa: partilhando nossas angústias como equipe pesquisadora junto a grupos de docentes voluntários no ano de 2021, por meio de dispositivos online.
Como estaria sendo viver a docência em tempos de forte abalo nas estratégias de ofício traçadas enquanto se faz história pela própria história do ofício?
1Canguilhem, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
2Clot, Yves. Trabalho e poder de agir. Ed. Fabrefactum, Belo Horizonte, 2010.