Cada vez mais difícil ser professora… Um dia a gente sofre com assédio moral, como a vice-diretora que não pode ser contrariada chamando a gente de louca! Pessoas que não respeitam o horário de trabalho, menos ainda o tempo da gente. Somos obrigadas a trabalhar de madrugada só porque estamos em trabalho remoto? Temos que atender tudo com urgência! A pressão para volta ao trabalho presencial… os colegas se contaminando, os casos positivos que ficamos sabendo, colegas internados… Nós o tempo todo com aquela sensação de “enxugar o gelo”, o tempo todo administrando varias situações, o tempo todo apagando o incêndio! Planejamento de aulas, drives, burocracia que só aumenta. Mas estamos ali tentando dar o nosso melhor para os estudantes, buscando atividades, (re)criando, (re)inventando nossos repertórios.
Na verdade, ando vivendo altos e baixos em relação ao meu trabalho, uma instabilidade tremenda que acho que de alguma forma pode estar interferindo no meu trabalho. Tento olhar para tudo isso buscando enxergar algo bom, mas a verdade é que está difícil manter essa postura. Pelo menos agora, online, pudemos recuperar nosso espaço de conversa, nossas reuniões pedagogicas, que nos dá um alento, mas que nos foram impossibilitadas a partir do último governo.
Para além disso, tem a pressão da mantenedora para que a escola não feche mesmo com casos positivos para Covid-19, o relaxamento nos protocolos por parte da população, aquele relaxamento informal, mas que sabemos que existe. Temos que aprender a lidar com os colegas negacionistas ou não estão nem se importando com tudo que tá acontecendo. Ou será falar de empatia minha não entender o que se passa na cabeça deles. Não sei! Sabemos que é um momento muito complicado, complexo. Ao meu ver , considero uma falta de respeito mas sabe-se lá o que a outra pessoa pensa? Está bem complicado e ficamos triste porque é o nosso trabalho, mesmo descaracterizado e desfigurado. Parece que foi destruído, é uma sensação de impotência, temos noção de que essa questão que é maior que nós, afinal de contas, uma pandemia! E uma pandemia significa algo que essa geração até então não tinha vivenciado e no nosso caso, ainda (sobre)vivemos de uma maneira que se parece um tanto cruel. É difícil, ainda mais com os governos que nós temos… esses, dificultam ainda mais! Mas tenhamos fé! Vai melhorar! Desejamos que melhore! Precisamos muito, que melhore!
Eu gostei muito do seu pseudônimo, talvez porque “coragem” é algo que nos últimos 3 anos muitas pessoas tem utilizado para definir uma “competência” que parece necessária tanto para suportar quanto para efetivamente fazer do que temos vivido nos trabalhos e no país em geral outra coisa que não seja medo ou dificuldade de se movimentar.
Como é que se constitui uma, ou melhor, umas “profes de coragem”? Como construir essa coragem, se não junto do alento e inspiração uns dos outros? Seria muito bacana ler/ouvir de você o que pensa que te dá força pra ter coragem!
Que interessante, Luis! Tu indicas a coragem como uma experiência coletiva, me parece que é isso aí! Nãos e trata de sermos corajosas individualmente mas coletivamente! Será necessário coragem para, talvez, inventar um outro mundo, uma outra escola, uma outra educação…A gente sente falta dos recursos pra agir que tinha mas talvez caiba agora levar a uma radicalidade a experiência de abrir novas veredas para existência no e pelo trabalho na educação! O trabalho “desfigurou” quem sabe “figuramos” um outro trabalho docente?
Trabalho “desfigurado”, “descaracterizado”, você menciona Professora! Trata-se de uma experiência forte essa! O desafio parece ser o de criar novas “figurações” e “caracterizações” para esse trabalho já que não há retorno ao “antes”…há memória de uma experiência de onde retiramos elementos desse “antes” tipo “restos arqueológicos” para reinventar e figurar um novo agora, um trabalho em educação transformado pela pandemia!
Olá, Profe de coragem. Obrigado por ter a coragem de se implicar com seu trabalho e de compartilhar sua narrativa conosco. Esperamos que esse espaço seja também um dispositivo de cuidado para com o trabalho, e certamente para tanto um bom quê de coragem é requisitado.
Lendo teu relato, duas questões me tomam de assalto. Uma diz respeito ao que tem sido visto como “urgente” nesse tempo bruto que estamos vivendo… é o retorno aos aulas, é o retorno presencial, é a resposta a demandas, é algum cuidado para com a educação e aqueles que fazem ela acontecer? Uma urgência não é só uma relação com o tempo, mas uma leitura de importâncias e de como usar o tempo, mas parece que muitas coisas desse tempo tem conspirado para que essa leitura venha pronta, fechada, uma exigência que nos impede o cuidado. Ver nossos colegas se contaminando, mesmo quando se pede o retorno presencial, não deveria se constituir em uma urgência?
Outra coisa, mas também relacionada, que me salta do teu relato, é a sensação de se estar sendo desrespeitada. Nossos tempos, nossos trabalhos, nossas existências, nossa saúde, nossas vidas… tudo sendo desrespeitado. E nesse clima de urgência, o trabalho remoto vai normalizando esse desrespeito. Acho que isso põe questões que compõem com algumas das questões que tu colocas. Bom, podiamos perguntar, no contexto de trabalhar ensinando, da experiência docente, o que seria ter respeito? Até mesmo pensar o que seria ter respeito pelo trabalho, como um valor a ser compartilhado e defendido entre colegas que são do oficio?
Seguimos a conversa. Vamos tentando nos apoiar e construir formas de viver, sobreviver e aprender com esse tempo.