Atuo em Secretaria de Educação e as principais mudanças se deram na organização dos processos de trabalho. Com o teletrabalho se as demandas chegavam a qualquer hora e a todo momento, principalmente via aplicativo de WhatsApp. A casa virou espaço de trabalho, e as demandas que já eram várias, se multiplicaram. Passei a trabalhar realizando outras atividades que não realizava antes da pandemia. A principal dificuldade foi conciliar o trabalho e as atividades domésticas, bem como a maternagem. Essa questão, juntamente ao distanciamento físico, foram os principais impactos que sofri. Confesso que foi muito difícil organizar a vida no início. Ter que “dar conta” do trabalho, afazeres domésticos, cuidar dos filhos, aprender a usar novas tecnologias num curto espaço de tempo, não contar com a compreensão da gestora a respeito de minha condição de vida no momento, foram elementos que me levaram à exaustão e abalaram a minha saúde mental. Mas aos poucos, compartilhando as angústias com os colegas de trabalho (um dando força para o outro), reorganizando a rotina, dialogando sobre o que eu estava vivenciando, fizeram com que os desafios fossem superados. Acredito que cada um, em alguma medida, teve que se reinventar, olhar para dentro de si e identificar outras potencialidades. Também foi importante cuidar de si e do outro, trocando experiências, ajudando o outro na realização do seu trabalho (trabalho coletivo). Também busquei estratégias que posso chamar de “táticas de sobrevivência” (rsrs) -não acessar o whatsApp fora de meu horário de trabalho; estabelecer prazos para realização das demandas de trabalho para não ficar muito sobrecarregada; não adentrar a noite para dar conta das demandas; recorri à terapia; reorganizei os afazeres domésticos (dividindo de modo mais igualitário com o marido e contando com a participação das crianças). Estou aqui pensando…quando a gente pensa em trabalho em educação, isso não se resume à execução de ações ou a cessão da força de trabalho. O trabalho ocupa uma grande parte de nossas vidas. Por meio dele a gente produz, cria, aprende, ensina, sente prazer, sofre, adoece, luta, resiste, reinventa… e com a pandemia aprendi que quando a gente pensa que tudo está perdido ou se depara com incertezas, é necessário buscar estratégias para superar as adversidades. Sempre há uma saída, sempre podemos inventar uma saída.
Olá Professora! Sua história é rica em detalhes e movimentos! Fala de mudanças drásticas nos processos de trabalho e da urgência de novos aprendizados para trabalhar. Imagino a insegurança que experimentou ou ainda experimenta, pelas incertezas a respeito de como as coisas andarão, quais serão os efeitos daquilo que tem feito enquanto trabalho. Mas é interessante também perceber que essa experiência já lhe mostrou que além das alternativas individuais para enfrentar a situação também, e sobretudo, é necessário recorrer ao esforço coletivo. Sim! Trabalhar é uma experiência que implica uma força que se descobre no contato, na afetação entre os corpos de quem trabalha: isso é da ordem do que chamamos de ofício, isto é, do trabalho tomado enquanto artes do fazer, no caso, do fazer educação! Contato e afetação que em tempos de distanciamento social traz elementos novos e inusitados para a gente e que merecem atenção!
Agradecemos muito por compartilhar sua vivência conosco, professora. Me toca muito esse adentramento da realidade de trabalho no campo do lar, desorganizando e reorganizando toda uma forma de viver (muitas vezes para mal, mas também, em algumas recriações, possivelmente para bem). Importante isso que referes da necessidade de se compartilhar angústias e trocar forças com os colegas pra lidar com esse tempo e se criar formas de vivê-lo. Que esse espaço posso se conformar também enquanto um espaço de cuidado, e quem sabe de trocas e compartilhamento de estratégias de sobrevivências! O tempo e o ofício pedem!